
Há alguns anos sem encarar uma pescaria na temporada amazônica de Tucunaré Açu, de última hora, surgiu a oportunidade e o Rodolfo Lenzi integrou uma equipe de feras, numa aventura que jamais sumirá da memória. Rio seco, navegação interrompida, acampamento, afluentes e, claro, bons peixes!
A DECISÃO ACERTADA
Ao aterrissarmos em Barcelos-AM, já demos de cara com um ônibus local que carrega em sua carroceria uma foto minha (Rodolfo Lenzi), com um Açu capturado na região de Santa Isabel do Rio Negro-AM. Já sabia de sua existência e foi engraçado poder tirar uma foto “comigo mesmo”.
Já em terra, os tripulantes das equipes dos barcos “Tucuna” e “Tucuninha”, avisaram ao chefe Maicon Bianchi, que o rio Negro estava muito seco, assim como seus afluentes, o que impediria a navegação e, consequentemente, se tornaria um fator limitador da pescaria. Foi então que Maicon decidiu, com a concordância de todos, que iríamos abrir mão do conforto dos barcos-hotéis, para acamparmos em lugares mais prósperos e piscosos.
O local escolhido para ficarmos foi uma grande praia no rio Cuiuni, a poucos minutos do rio Alegria. Após uma viagem de cerca de cinco horas de “voadeira” e motor 25hp, alcançamos nosso destino. A equipe Tucuna já havia se adiantado e, quando chegamos a praia, o acampamento já estava montado com as redes, lonas e a estrutura mínima necessária para nos acomodar por alguns dias.
ACAMPAMENTO
Nada de acampar no quintal de casa, ou naquele camping cheio de comodidades. O acampamento foi mesmo na selva, do modo mais rústico possível e cheio de espírito de aventura. Foi um dos pontos altos da pescaria, que não se trata só de pegar peixe.
As refeições eram produzidas ali mesmo, na areia, com suportes de panela e churrasqueiras improvisadas com galhos.
A mesa, também improvisada, tinha sua utilização revezada por todos. As cadeiras eram as caixas térmicas.
Abrir mão do conforto, também tem suas vantagens. Estávamos próximos de pontos promissores de pesca. E a possibilidade de contemplar a natureza, da forma mais direta e selvagem possível, é algo praticamente impagável e único.
Viver essa experiência por alguns dias foi algo extremamente interessante e que acrescentou muito na vida de cada um que vivenciou aquilo. À noite, poder livrar-se do calor amazônico, banhando-se nas águas escuras do rio, visualizando um céu límpido e brilhante, tendo como música o som da água percorrendo seu caminho, é uma experiência totalmente singular.
RIO CUIUNI E ALEGRIA
O rio Cuiuni, assim como o Alegria, estavam severamente secos. Muitos de seus braços e lagos estavam sem água alguma, apenas com uma vegetação de gramínea formando um substrato.
Os poucos lagos que restaram vivos tinham o acesso muito dificultado e pouquíssima água navegável.
Tivemos que passar diversas vezes por aquela saga já conhecida dos pescadores de Açu: tira motor, arrasta barco, abre caminho, corta tronco, etc.
O TUCUNARÉ NA SECA
Ele é um peixe que se adapta às adversidades e seu comportamento se altera constantemente. Seus hábitos alimentares e agressividade se modificam em grandes amplitudes. Hora estão atacando com voracidade tudo que está em sua volta, hora sequer se interessam por aquilo que passa se arrastando em sua frente. Cabe ao pescador, sempre com a ajuda do guia, tentar driblar as dificuldades e encontrar uma forma de ter o troféu esticando sua linha.
Em janeiro, encontramos o Tucunaré em seu período de reprodução. Alguns estavam acasalando, outros já cuidando de sua prole. A cena que encontrávamos era de lagos recheados de grandes ninhos em sua extensão. Nunca tinha presenciado e nem acreditava na quantidade de enormes Tucunarés que habitam aqueles afluentes. Pudemos ver muito, mas muito peixe grande em casal, sobre os grandes buracos que faziam para reproduzir.
Por conta dessas peculiaridades (água baixa e limpa, peixe reproduzindo), o Tucunaré estava “manhoso”, como os pescadores gostam de dizer. Como já dito, era possível a todo momento visualizar grandes peixes que, no entanto, não mostravam qualquer interesse em se alimentar ou mesmo atacar nossas iscas para afugentá-las. A pescaria foi sofrida. Quando se vê um peixe, mas não se consegue fisgá-lo, é frustrante.
Se os grandes peixes estavam inertes, os menores, como os Borboletas, por exemplo, estavam em frenesi alimentar. Era possível se capturar dezenas desses Tucunarés, que atacavam em cardumes. Diante de tanto peixe deste porte, não nos preocupamos em fotografá-los. Nos concentramos na missão Tucunaré Açu.
SE ADAPTANDO E PESCANDO
Era a primeira pescaria desse tipo do meu parceiro de barco, o Leonardo Giacob, que rapidamente se adaptou e já estava se divertindo com os peixes.
Nossa tática de pesca consistiu, na maioria das vezes, em fazer com que aquele que pescasse na proa do barco, utilizasse isca de hélice e, quem estivesse logo atrás, faria uso das soft baits da “Monster 3X”, as “M-ACTION”, gentilmente cedidas por Delano e Bruno Burian, grandes parceiros que nos acompanharam nessa aventura.
As iscas menos barulhentas e de menores dimensões pareciam só atrair os pequenos Borboletas, por isso, a decisão de usar grandes e espalhafatosas hélices consistiu em parte da chave do sucesso. Mas a hélice é uma isca que deixa o pescador exausto e tem que ser utilizada por longos períodos, caso contrário sua probabilidade de êxito vai se resumir à mera sorte e acaso. Enfim, nos empenhamos e aos poucos os peixes foram começando a dar as caras.
Na primeira tentativa de peixe de couro, no final da tarde, já tive a oportunidade de travar uma batalha com uma bela Pirarara.
Pescamos muito no visual, pois a água cristalina e rasa dos lagos nos permitia ver a localização de grandes peixes. Na maioria das vezes, o peixe simplesmente ignorava a presença de qualquer isca.
Em outras, atacava somente para afugentar, ficando aquela visão de um rebojo de água atrás da isca. A pescaria foi seguindo e, alternadamente, surgiam alguns Pacas e Açus.
O guia avistou uma movimentação em uma beirada com um grande galho e nada falou. Somente olhou para mim e apontou. Fiz o arremesso certeiro e na primeira arrastada da hélice, o enorme Tucunaré mostrou todo seu empenho. Bateu na isca como gente grande e saiu tomando linha. Em sua primeira arrancada, quebrou minha vara de 25 lbs simplesmente ao meio. Ainda tentei segurar somente com a carretilha, mas ele enfiou uma das garatéias no tronco e conseguiu fugir. Com certeza era algo com mais de 20 lbs.
Mesmo abatidos, continuamos insistindo e os peixes foram sendo fisgados.
O pôr do sol, como não poderia deixar de ser, era incrível.
Alguns Açus menores, mas não menos bonitos, também fizeram nossos corações dispararem por alguns instantes.
Bons peixes foram capturados e testaram nossos equipamentos à exaustão. Confira mais imagens dos belos peixes fisgados.
Considerando todo o contexto, foi uma experiência memorável. Morar alguns dias em plena selva amazônica, ver casais de enormes Tucunarés cuidando de seus ninhos, a companhia de novos amigos, belos peixes fisgados, tudo convergiu para fixar as imagens em nossas memórias, por tempo indefinido.
Agradeço ao staff do Tucuna, em especial ao Maicon Bianchi e ao João Vitor Mercury, pela oportunidade, organização e disposição em tentar fazer de tudo para agradar o pescador.
É isso aí. Boas pinchadas!
Imagens: Rodolfo Lenzi e Leonardo Giacob
Texto: Rodolfo Lenzi
Tucuna Amazon Boat
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Show Rodolfo, parabéns pelo texto e pelas fotos, belíssimos açus! Um abraço